Afroempreendedorismo

Segundo o SEBRAE, nos últimos dez anos a taxa de empreendedores negros subiu 29% e eles já são a maioria dos empreendedores brasileiros.  Apesar disso, ainda são os pequenos empreendedores, na sua maioria, MEI (Micro Empreendedor Individual) e não estão conseguindo crescimento e fortalecimento no mercado em comparação ao empreendedores brancos.

Tem um artigo aqui no blog em que eu falo sobre O falso empreendedorismo de sucesso por mérito, explicando por que o empreendedorismo não funciona da mesma forma para todo mundo. E como questões sociais e raciais afetam diretamente essa questão.

Hoje vamos nos aprofundar mais um pouco nessa questão, discutir o porquê do empreendedorismo não funcionar da mesma forma para pessoas negras e pessoas brancas, e como o reflexo da escravidão ainda se perpetua nos dias atuais.

Apesar do termo Afroempreendedorismo ser novo, ele já era vivenciado pelos negros no período da escravidão e no período pós escravidão. Com a abolição da escravatura muitos negros foram marginalizados e totalmente excluídos da sociedade, então era preciso encontrar uma forma de sobrevivência e reinserção na sociedade.

Era muito comum que negros empreendessem trabalhando com a cultura trazida do seu continente de origem, a África. Já que para dos escravocratas empregar e pagar pelos serviços executados por um negro era uma “coisa absurda”.

Com o passar dos anos o negro foi se estabelecendo da “forma que dava” na sociedade, sem perspectiva, por sobrevivência, sem acesso à educação digna e por consequência não tinham condições de investir em conhecimento e desenvolvimentos das habilidades para gerenciar seu empreendimento.

Nos dias atuais vemos um cenário diferente – é claro ainda existem muito negros empreendendo por sobrevivência – os negros estão com mais acesso a educação e estão buscando mais formas de se capacitar e desenvolver suas habilidades de gestão do próprio negócio.

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Além disso, existem vários projetos, grupos e redes, com propósito de fortalecer os empreendedores negros. Promovendo sua capacitação, desenvolvimento pessoal e profissional, inserção social e ascensão econômica.

Mas aí você se pergunta… “ Então Andressa, o cenário está mudando as coisas estão melhorando – pouco, mas estão – por que o empreendedor negro não consegue se fortalecer e crescer no mercado como a maioria dos empreendedores brancos?

Apesar de se ter passado muitos anos após o período da escravidão, ainda existem reflexos muito presentes e enraizados na sociedade.

Segundo o site Alma Preta ao entrevistar Maurício Pestana secretário municipal de promoção da igualdade racial (SMPIR-SP), ele diz que a diferença entre o empreendedorismo branco e negro são gritantes:

“Estamos falando de cabeleireiros, de pessoas que montam uma pequena oficina de costura ou distribuidora de produtos para cabelo, e que muitas vezes precisam se virar sozinhas. Já o empreendedor branco em geral, por ter uma questão econômica e social mais elevada, já começa seu negócio em condição mais favorável e em pouco tempo poderá crescer, contratar funcionários e investir mais. Esta é a grande diferença”

Além disso, em questão de crédito, empreendedores negros têm três vezes mais pedidos negados do que os empreendedores brancos. Se ele não tem condições de conseguir dinheiro emprestado, não tem como investir, não tem como contratar funcionários, logo, não tem como crescer.

O Afroempreendedorismo vem para tentar acelerar o processo de mudança desse cenário, buscando a inserção social, criar oportunidades e da ascensão econômica para o empreendedor negro (deixando bem claro que isso não tira a luta por mais negros em cargos de liderança de grandes corporações, ainda lutamos por essa representatividade). Voltando também para a criação de produtos e serviços que reafirmem a ancestralidade dos afrodescendentes, aí entra a questão de representatividade e o consumo consciente.

Por muito tempo foi imposto ao negro um padrão de produtos, roupas, beleza dentro da sociedade: o padrão europeu, o padrão colonizador. Por exemplo, a alguns anos trás a gente ia em uma lugar que vendia cosméticos ou produtos de cabelo e não se encontrava quase nada especializado em estética afro. Com o afroempreendedorismo foi se criando empreendimentos especializados para o público negro.

E  o que seria o consumo consciente?

A população negra começou a se questionar do porquê de não ser incluída nas pautas de consumo. Por que as empresas não estão interessadas em criar produtos afro? A resposta é simples…

Nós podemos até reclamar, porém seguimos consumindo os produtos deles. E se reclamamos e ainda sim consumimos os produtos deles, não é “interessante” para eles nos colocarem em pauta nenhuma.

Então cada vez vez a população negra tem criado uma corrente de apoio para fortalecer o afroempreendedor.

Espero que esse texto tenha contribuído para um melhor entendimento sobre o Afroempreendedorismo, e também para entender que está muito longe de ser uma forma de segregação ou divisão de raças. O Afroempreendedorismo é uma forma de amenizar o reflexo do período escravocrata, porque na realidade daríamos tudo para que todos tivessem as mesma oportunidades.

Até a próxima!

 

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